O boto Inia geoffrensis é uma espécie de golfinho de rio endêmico de águas continentais da América do Sul. Sua ocorrência abrange os rios e lagos da Bacia Amazônica, do Orinoco e Tocantins-Araguaia (Best & da Silva, 1989; Meade & Koehnken, 1991). Estudos sobre a ecologia e a biologia da espécie vêm sendo realizados na região amazônica (Pilleri, 1979; Magnusson et al, 1980; da Silva, 1983, 1994; Meade e Koehnken, 1991; Trujillo, 1994; Vidal, 1997; McGuire e Winemiller, 1998 Denkinger, 2001; Aliaga-Rossel, 2002, 2003; Martin et al, 2004; Martin e da Silva, 2004, 2006b;). No entanto, para a população de botos existente na bacia Araguaia-Tocantins, pouco se conhece sobre sua distribuição, tamanho populacional, comportamento e taxas de mortalidade. Amaral (2002) fez uma caracterização da espécie, Carneiro (2002) estimou a abundância para a região do médio Araguaia e Araújo (2007) verificou a influência do tráfego de embarcações sobre o comportamento do boto em um tributário do rio Araguaia.
O estudo de parâmetros populacionais de uma espécie, (ex: tamanho populacional e padrões de distribuição), principalmente as endêmicas, é de fundamental importância para se conhecer bem a dinâmica de uma população animal (Parra et al, 2006). A falta dessas informações básicas pode dificultar o reconhecimento da magnitude dos impactos antropogênicos sobre as espécies e diminuir a eficiência das medidas de conservação (Parra et al, 2006; Segura et al, 2006). Sua ocorrência restrita faz com que sejam mais vulneráveis a impactos ambientais regionais, portanto, estratégias para sua conservação devem ser extremamente eficazes.
Obter estimativas de abundância é uma prioridade para se avaliar o estado de conservação das espécies de cetáceos, a fim de se analisar o impacto que ameaças humanas possam ter sobre as populações (Segura et al, 2006). Porém, há certa dificuldade em se avaliar de forma precisa o tamanho populacional e os padrões de distribuição e de residência para cetáceos, pois esses animais passam muito tempo submersos e estudos detalhados geralmente dependem de rastreamento remoto realizado a longo prazo (Martin e da Silva, 1998).
Modelos de marcação e recaptura (mark-recapture) são frequentemente utilizados para estimativas de tamanho populacional e de padrões de residência em cetáceos. Tais modelos estimam o número de indivíduos identificados em uma determinada população. A individualização é feita através de marcação física (freeze-brand, radio-tag, plastic-tag), mas os dados obtidos através de fotografias também têm sido bastante explorados. O uso da foto-identificação é um método não invasivo que substitui a marcação física e possibilita a obtenção de resultados satisfatórios para essas estimativas, sendo que consiste na utilização de marcas naturais e cicatrizes para individualizar os animais. (Stensland et al, 2006; Read et al, 2003; Durban et al, 2005; Barlow, 2006; Martin et al, 2006). Além disso, transectos (line transects e strip transects) também são empregados para estimativas de abundância e verificação de padrões de distribuição (Vidal, 1997).
Os botos são predadores topo de cadeia alimentar. Eles exercem a função ecológica de estabilizar e manter a diversidade da comunidade de peixes, por predarem espécies mais abundantes e indivíduos debilitados no ambiente aquático (da Silva, 1983). Sendo assim, é também válido que se conheça a dieta da espécie e quais espécies de peixes são mais predadas para melhor relacionar sua distribuição com a distribuição de suas presas e também se as espécies de peixes preferencialmente consumidas pelo boto são espécies de interesse comercial.
Assim, o conhecimento dos parâmetros populacionais da espécie, especialmente padrões de distribuição e estimativa de abundância na bacia do Rio Araguaia proporcionará a realização de inferências sobre o estado atual da população de botos e este conjunto de dados será uma ferramenta concisa para elaborar estratégias de conservação da espécie.

Projetos de Pesquisa
Para conservar uma espécie é necessário conhecer sobre seus hábitos, área de vida, suas demandas ecológicas e os fatores que ameaçam a sua conservação. Para